Adiposo

Beu, C.C.L.; Guedes, N.L.K.O.; De Quadros, Â.A.G.¹

  O tecido adiposo é um dos tecidos conjuntivos especializados, no qual predominam as células adiposas, denominadas adipócitos, que armazenam gordura. Quando os adipócitos formam grandes agregados, constituem o tecido adiposo, que é distribuído em várias regiões do corpo. Porém, estas células podem ser encontradas isoladas ou em grupos no tecido conjuntivo frouxo.

  A gordura é uma forma eficaz de armazenamento, já que tem cerca do dobro da densidade calórica de carboidratos e proteínas. Enquanto os triglicerídeos fornecem 9,3 kcal/g, o glicogênio (armazenado em células musculares e hepáticas) fornece apenas 4,1 kcal/g. Assim, o tecido adiposo é o maior depósito de fonte de energia encontrado no corpo, sob a forma de triglicerídeos. O tecido adiposo também tem como funções: modelar a superfície do corpo, proteger contra choques mecânicos, contribuir para isolamento térmico do organismo, preencher espaço entre tecidos, auxiliar a manter certos órgãos em posição normal (loja renal) e secretar diversas moléculas.

  A camada de tecido adiposo profunda à pele é chamada de hipoderme e pode ser mais ou menos desenvolvida conforme a região do corpo e o estado nutricional do indivíduo. Em geral, a hipoderme é bem desenvolvida na coxa, parede inferior do abdome e regiões glútea e lombar. A diferença de contorno do corpo em homens e mulheres, uma das características sexuais secundárias, é resultado de diferentes espessuras da camada de tecido adiposo nas diferentes regiões do corpo. Na cavidade abdominal, o tecido adiposo pode ser encontrado em partes do peritônio, como omentos e mesentério; no espaço retroperitoneal, inclusive em torno dos rins formando a loja renal. Em algumas regiões, o tecido adiposo tem função de diminuir impactos, é o caso do que está localizado na palma da mão, na planta do pé e do corpo adiposo da órbita (em torno do bulbo do olho). O tecido adiposo localizado nestes locais não diminui mesmo em períodos nos quais há redução da ingestão de calorias.

  Há dois tipos de tecido adiposo: amarelo (unilocular) e o pardo ou marrom (multilocular). O tecido adiposo marrom está presente, em humanos, durante o desenvolvimento e diminui a partir do nascimento até o décimo ano de vida. O tecido adiposo amarelo permanece desde o desenvolvimento fetal e durante a vida adulta.

  O tecido adiposo é ricamente vascularizado e, em secções histológicas, pode-se observar capilares entre três adipócitos adjacentes; também vênulas e arteríolas podem ser identificadas.

Tecido adiposo unilocular

  O tecido adiposo unilocular tem coloração que pode variar entre o branco e o amarelo, dependendo da quantidade de carotenos dissolvidos nas gotas lipídicas. O tecido unilocular é o tecido adiposo predominante em adultos.

  Os adipócitos do tecido adiposo unilocular são grandes (50 – 150 µm) e esféricos, individualmente, mas, quando agrupados, têm forma oval ou poligonal. A presença de uma única grande gota de lipídio confere aspecto achatado e deslocado do núcleo e de uma fina camada de citoplasma entre a membrana plasmática e a gota lipídica. A preparação de lâminas histológicas de rotina com uso de xilol (para diafanizar a amostra de tecido) remove o lipídio do tecido adiposo e isso confere aspecto de “malha” à secção e o que aparenta ser o “fio da malha” é o citoplasma de adipócitos adjacentes.

  A gota lipídica não é revestida por membrana. As organelas presentes no citoplasma são ribossomos livres, complexo de Golgi, cisternas pequenas de retículo endoplasmático granular, retículo endoplasmático liso, filamentos e mitocôndrias localizados.

  Os adipócitos podem originar lipomas, tumores benignos, ou lipossarcomas que são de caráter maligno e de difícil tratamento.

Tecido adiposo multilocular

  O tecido adiposo multilocular também é denominado de pardo devido à sua cor, decorrente da vascularização abundante e da presença de mitocôndrias. Estas são ricas citocromos que lhes confere cor avermelhada. O tecido multilocular tem distribuição restrita no feto humano e extremamente reduzida no adulto.

  Os tecidos adiposos unilocular e multilocular diferem quanto à distribuição e, também, quanto à aparência dos adipócitos – porque no tecido multilocular há várias gotículas de gordura, de tamanho variado, na célula. No tecido adiposo pardo, o núcleo está localizado na periferia do adipócito mas não é achatado. As várias gotículas são observadas, em preparações histológicas de rotina, como vários espaços vazios no mesmo adipócito. O citoplasma do adipócito multilocular tem um pequeno aparelho de Golgi, pequena quantidade de retículo endoplasmático rugoso e liso e numerosas mitocôndrias típicas. O tecido adiposo pardo é subdividido em lóbulos por tecido conjuntivo, mas o estroma é esparso. A vascularização também é abundante neste tecido adiposo.

  Em animais que hibernam, o tecido adiposo pardo é abundante e impropriamente denominado glândula hibernante. Este tecido serve como fonte imediata de energia utilizada pelo animal quando acorda da hibernação. Animais que não hibernam também têm este tecido adiposo e, da mesma forma, o utilizam como fonte de energia para aquecimento corporal. Recém-nascidos humanos possuem tecido adiposo marrom em grande quantidade, com ampla distribuição nos dez primeiros anos de vida, porém sua quantidade diminui gradualmente com o desenvolvimento e desaparece na maior parte das regiões do corpo, permanecendo em torno dos rins, aorta, regiões do pescoço e no mediastino (região do tórax localizada entre os pulmões).

Mobilização do tecido adiposo

  A mobilização e o depósito de lipídios são influenciados por fatores neurais e hormonais. Os lipídios armazenados nos adipócitos são, principalmente, triglicerídios (ésteres de ácidos graxos e glicerol) obtidos: a partir da absorção após digestão dos alimentos, do fígado e pela síntese nos adipócitos a partir de glicose. A síntese de ácidos graxos pelos adipócitos é acelerada pela insulina, hormônio que também estimula a entrada de glicose nos adipócitos.

  A noradrenalina inicia vários passos metabólicos que levam à ativação da lipase, enzima que atua sobre os triglicerídeos. Fibras da divisão simpática do sistema nervoso autônomo inervam os tecidos adiposo unilocular e adiposo multilocular. A mobilização neural de lipídios, por meio da divisão simpática do sistema nervoso autônomo, é particularmente importante durante períodos de jejum prolongado, atividades físicas intensas e exposição ao frio.

  Substâncias como leptina e lipase lipoproteica são sintetizadas pelo tecido adiposo unilocular. A leptina é um hormônio que tem receptores no hipotálamo para atuar na regulação da ingestão de alimentos e do gasto de energia.

¹ Como citar:

  • Nas referências: BEU, C.C.L.; GUEDES, N.L.K.O; DE QUADROS, Â.A.G. Tecido conjuntivo, 2017. Disponível em: . Acesso em: 03 de mar. 2017. (conforme data de acesso ao site);
  • No texto: Beu et al. (2017) ou (BEU et al., 2017).

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