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Unioeste: Projeto de pesquisa realiza mapeamento do câncer de mama familial no sudoeste do Paraná

O projeto de pesquisa conhecido como “Mapeamento do câncer de mama familial no sudoeste do Paraná e estudo da associação de risco com a exposição ocupacional à agrotóxicos”, foi idealizado em 2014 pela professora Carolina Panis do curso de medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Francisco Beltrão, e conta com o auxílio do professor Daniel Rech. A proposta é, a partir de dados da 8ª Regional de Saúde que engloba 27 municípios da região, identificar o perfil clínico do câncer e as características da patologia para realizar uma entrevista com as pacientes e entender o histórico familial na genética e se há indícios de herança familiar, bem como analisar os casos de mulheres que têm contato direto com agrotóxicos por residirem em áreas rurais.

A ação possui uma parceria com o Hospital do Câncer (Ceonc), cujo apoio está na coleta de sangue, dos tecidos tumorais, além da colaboração de médicos, da direção e da equipe do centro cirúrgico para que os alunos possam fazer as captações de materiais para análise e na realização das entrevistas. Além do hospital, o grupo também tem apoio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), que possibilita aos alunos fazerem o mapeamento das mutações genéticas, associadas aos cânceres de maior agressividade.

De acordo com Carolina Panis, o projeto é importante para a região Sudoeste por apresentar uma porcentagem considerável de casos de câncer de mama, superando o nível estadual. “Só para ilustrar, a gente teria uma média de 90 casos por ano aqui na regional, enquanto em outras cidades do Estado, o número é no entorno de 63 casos aproximadamente por ano”.

A coordenadora explica que no começo do projeto, ela propôs que os alunos entendessem quem eram eles mesmos, para que a partir disso, pudessem realizar as entrevistas, que hoje já somam mais de 4 mil pacientes. “O estudo inicial que fez parte de um projeto de extensão, permitiu que a gente conseguisse identificar quem somos e para assim traçar uma estratégia que nos fizesse olhar mais de perto essa mulheres expostas, até então não existia confirmação que essas trabalhadoras eram mais propensas à doença que àquelas que não trabalham com isso”.

Ao longo da pesquisa, o projeto identificou que o câncer de mama em mulheres agricultoras é mais agressivo, um dos motivos é o contato mais próximo com o pesticida (substâncias utilizadas para controle de pragas). Além disso, a coordenadora considera relevante entender como essa doença se comporta no Sudoeste, para que o serviço de saúde tenha preparo no tratamento correto a essas pacientes e, a partir do momento que elas chegam em uma consulta e falam ao médico que trabalham na agricultura, o profissional esteja atento e faça um acompanhamento mais de perto em função das evidências evidenciada no projeto “Esse é um destaque importante, a gente não está avaliando a exposição em um âmbito geral, a gente só avalia a paciente que trabalha em funções rurais, com o contato direto ao pesticida. O nosso foco é estudar a exposição severa que ocorrem com mulheres que semanalmente trabalham manipulando o veneno”, reafirma a professora Carolina.

A partir da identificação da necessidade de trazer um olhar para a região, que apresenta grandes casos de câncer de mama, Carolina diz que o grupo passou a fazer campanhas junto à comunidade, exemplo como o outubro rosa, para falar sobre a relação do agrotóxico e o câncer. “Nós também levamos essa campanha para as escolas agrícolas, falando com os filhos e as filhas dos agricultores mostrando os riscos que eles terão caso não usarem equipamentos de proteção individual, sobre a manipulação correta do veneno, sobre a forma que este pesticida causa câncer”. Além do mais, Carolina entende que esse trabalho de sair da universidade e ir para a comunidade é fundamental por levar a informação e explicar às pessoas, em uma linguagem acessível a todos, sobre a realidade da doença e como isso pode ser evitada.

Na pandemia, o projeto migrou a parte da extensão para atividades online, segundo a coordenadora, em que o grupo promove a prevenção do câncer por meio da internet, pela página no Facebook. “A parte da pesquisa continua, porque ela não pode parar devido a uma demanda dos pacientes que, ao entrar para a cirurgia, passa pela análise que fazemos”. Para participar basta se voluntariar,  as mulheres assinam um termo de compromisso que explica todos os processos da análise, do material que é coletado e que retorno será dado “Basicamente, nós fazemos o rastreamento das mutações genéticas, e as pacientes que tiverem essas mutações, recebem o resultado e logo são encaminhadas para aconselhamento genético da família inteira (filhas, netas, irmãs, sobrinhas), porque tem um risco aumentado delas apresentarem a doença e, além disso, é feito as palestras não apenas no outubro rosa, mas ao longo do ano, na missão de levar a conscientização”.

A coordenadora percebe que a integração dos acadêmicos no projeto está na oportunidade, ainda no início do curso, de participarem de atividades tanto na comunidade quanto no hospital. “Eles participam da coleta de materiais no centro cirúrgico, acompanham as consultas de rotina das pacientes, vão aos laboratórios para aprender a fazer ciência, além de executar toda a parte analítica e muito mais. Considero esse projeto bem completo para quem é acadêmico” finaliza.

Prática

Maria Eduarda Fontana Vasselai é acadêmica do 3º ano de medicina. Ela conta que sempre teve interesse em realizar projetos de pesquisa “Acredito que a realização de pesquisa é muito importante, pois é através dela que podemos conhecer melhor as doenças e o perfil das pessoas que são acometidas por elas, além disso é possível promover mudanças em protocolos de atendimento e até mesmo descobrir novos medicamentos”. Ela ainda pondera sobre a importância de trabalhar esse tema, tendo em vista que é o segundo câncer que mais incide em mulheres no Brasil, segundo dados da Estimativa do Inca para de 2020, mostra que 66.280 casos novos de câncer de mama. “Dessa forma, pesquisar aspectos sobre esse tipo de câncer possibilita o entendimento de como e por que o câncer de mama se manifesta em algumas pessoas, podendo ajudar no futuro a diagnosticar precocemente essa doença e dar respostas a todas as mulheres que já participaram da nossa pesquisa” comenta.

Fernanda Mara Alves é acadêmica do 3º ano de medicina. Soube do projeto por uma amiga que cursava o 4º ano, e desde então se empenhou nas funções propostas pela ação. Ela compreende que participar desse projeto proporciona o aprendizado de valores éticos, o respeito e a ótima convivência com o próximo “a oportunidade de participar dentro de nossa Universidade, de um projeto tão abrangente e importante em nossa região do Sudoeste, traz uma vivência e experiência única para a vida profissional, faz a gente ter contato com pesquisa e extensão”.

A participação da Unioeste, segundo a coordenadora, é no fornecimento de bolsas de estudos aos estudantes para realizarem as atividades. “Temos bolsistas de extensão e de pesquisa, normalmente são quatro alunos. O curso que participa é a medicina e o mestrado do Programa de Pós-Graduação de Ciências Aplicadas à Saúde de Francisco Beltrão”. Além deles, compõem o projeto os alunos da liga acadêmica de oncologia clínica e cirúrgica.

*Imagens capturadas antes da pandemia da Covid-19

Por Luis Gustavo 
Supervisão de Thiago Leandro 

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