Um grupo de pessoas cegas do time de Goalball de Foz do Iguaçu passou por uma experiência sensorial nesta quinta-feira (4), ao visitar o Parque das Aves, na região das Cataratas do Iguaçu. Além da audição, olfato e tato já utilizados para sentir o ambiente, o grupo contou com o apoio de uma nova tecnologia que está sendo desenvolvida na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) Foz do Iguaçu: o NarrAi, um crachá que capta imagens e, através de uso da inteligência artificial, as descreve por voz, fornecendo detalhes do ambiente, como cores, objetos e luzes.
O grupo treina Goalball (futebol adaptado para pessoas cegas) na Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (Adibras) e do o Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat). Acompanhados de guias do Parque das Aves, eles passearam pelo espaço, um dos únicos do mundo focada na conservação das aves da Mata Atlântica. Uma das principais atrações turísticas de Foz, conta com seis viveiros de imersão e aves como jacutinga, mutum-de-alagoas, tucano, araras, flamingos e borboletas, repteis, entre outras espécies.
Ao entrar no espaço, o grupo já percebe a natureza. “Sentimos as coisas através do calor do sol, dos sinais da natureza, o balançar das folhas, o barulho das águas, e todos os sons dos pássaros”, conta Pedro de Abreu da Silva. Cego de nascença, ele conta que a descrição de áudio é um complemento. “Ajuda a aguçar a nossa imaginação. Através dela, conseguimos juntar o que imaginamos, o que ouvimos”, conta. Os ambientes e características dos animais também são narrados pelos guias dos próprio parque.
A equipe do Laboratório de Computação Gráfica da Unioeste Foz do Iguaçu participou da visita a convite da direção do Parque. O protótipo do NarraAi ainda está em desenvolvimento, mas já ganhou o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia, na categoria Inventor Independente, recebida pelo estudante Gustavo Camargo Domingues.
A ideia era testar o equipamento com os visitantes e perceber na prática se é necessária alguma alteração. “Usamos a inteligência artificial de forma personalizada para gerar descrição dos ambientes com foco em acessibilidade para contribuir com a inserção das pessoas com deficiência nos diversos ambientes” explica o professor Cláudio Roberto Marquetto, coordenador do laboratório e do projeto. Durante o teste, os pesquisadores perceberam que alguns locais com menor contraste de cores, ou baixo alcance de wi-fi, podem prejudicar a geração da imagem, o que os levará a pensar em adaptaçõe para esses ambientes.
Concluinte do curso de Ciências da Computação, Gustavo Camargo Domingues desenvolveu o projeto durante sua graduação e agora participará da pré-incubadora Unihub Foz do Iguaçu para formatar seu projeto para um modelo de negócio “Sempre gostei de fazer programação, mas não tinha essa perspectiva de trabalhar com acessibilidade. Ao desenvolver esse projeto eu percebi que a ciência vai além da inovação, pois traz a possibilidade de transformar e capacitar”, conta.
Mais acessibilidade
O Parque das Aves está fortalecendo suas ações de inclusão e por isso convidou o grupo e a Unioeste. Já recebendo a consultoria de Ivan José de Pádua, deficiente visual e Assessor de Igualdade e Promoção Social da universidade, vem adotando medidas, como empréstimo de cadeira de rodas e pedaços de bicos, patas e ossos de animais para o tato. A visita do grupo de GoalBall foi uma forma de perceber se faltam mais mudanças de acessibilidade para as visitas de pessoas com deficiência.
Texto: Daniela Neves
Imagens: Mohammad Al Fayad