Um trabalho desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural Sustentável (PPGDRS) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Marechal Cândido Rondon, recebeu Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2025, na área interdisciplinar. A tese intitulada: Nou Aléz Nan Mizé: Desenvolver o conceito “Fome Cultural” para compreender a fome na perspectiva haitiana, foi elaborada pelo doutorando Ethol Exime, orientado pelo professor Evandro Alves Barbosa Filho.
Para Ethol, o Prêmio Capes de Tese 2025 vai além do reconhecimento acadêmico, é uma vitória coletiva de seu país de origem e do que o acolhe. “Do Haiti, que me formou na dor e na esperança; do Brasil, que me acolheu e me deu espaço para florescer; e da ciência, que me permitiu transformar sofrimento em conhecimento. Como dizemos em crioulo haitiano, "Lavi se batay, men lespwa se limyè ki pa janm etenn" a vida é luta, mas a esperança é uma chama que nunca se apaga”.
O doutor reforça que a tese e o reconhecimento marcam o início de uma luta ainda maior. “Dedico essa honraria a todas as pessoas que, muitas vezes invisíveis, enfrentam a fome, a pobreza e a exclusão, mas continuam acreditando na dignidade e na força da cultura. Esse reconhecimento não é um ponto de chegada, mas um novo ponto de partida para continuar contribuindo com ideias inovadoras, como o conceito de Fome Cultural, para que possamos construir sociedades mais justas, solidárias e humanas”.
Qualidade no Ensino
O Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural e Sustentável da Unioeste tem o conceito 5 do CAPES e garante qualidade e excelência no ensino. Segundo o coordenador do programa, Wilson João Zonin, são teses como a de Ethol que comprovam a maestria. “A tese mostra que nós estamos produzindo ciência focada na agenda da sustentabilidade e também em conhecer situações e apresentar caminhos para superar problemas não só no Brasil, mas também na América Latina e Central, e no mundo. Então é um reconhecimento de que o Programa tem um nível de excelência acadêmica e que tem professores e estudantes de alto nível”.
Além disso, o orientador da tese, professor Evandro, enxerga o desenvolvimento e o resultado do trabalho como uma qualidade de relação orientando-orientador, como também da qualidade de formação que Ethol teve acesso durante as disciplinas do programa, durante eventos e debates promovidos pelo PPGDRS e pela troca com colegas de diversas formações.
Com isso, o reconhecimento da educação de qualidade veio por forma da Menção Honrosa, além de outros caminhos de seguidos por Ethol. “É muito gratificante ver que no PPGDRS-Unioeste estamos formando um quadro de pesquisadores/docentes de alto nível, considerando que, logo após a conclusão da tese, Ethol foi aprovado em seleção nacional para bolsista de pós-doutorado e foi convidado a atuar como professor visitante em várias instituições internacionais”, ressalta Evandro.
A relação que Ethol teve com a Unioeste, reforça essa qualidade, pois foi marcada por generosidade, diálogo e aprendizado constante. “Minha relação com a Unioeste durante o doutorado foi marcada por generosidade, diálogo e aprendizado constante. Desde o primeiro momento, encontrei professores comprometidos, colegas solidários, uma equipe técnica atenciosa e amigos que se tornaram parte da minha história. Foi nesse ambiente acadêmico que pude amadurecer não apenas como pesquisador, mas também como ser humano, encontrando apoio para enfrentar desafios pessoais e acadêmicos. A Unioeste me ofereceu muito mais do que formação científica: me ofereceu confiança, acolhimento e a certeza de que a universidade pública brasileira é um patrimônio que transforma vidas”, ressalta o doutor.
Recordando sua origem, Ethol não hesita em agradecer a todos que fizeram parte desse processo. “Levo comigo um profundo sentimento de gratidão e o compromisso de continuar honrando o Programa de Pós-Graduação, levando comigo o nome da Unioeste em cada passo da minha trajetória acadêmica e profissional. “Mèsi anpil, Unioeste, pou tout sa nou te fè pou mwen” (Muito obrigado, Unioeste, por tudo o que fizeram por mim)”.
A tese
De acordo com Ethol, a tese, intitulada "Nou Aléz Nan Mizé: Desenvolver o Conceito de 'Fome Cultural' para Compreender a Fome na Perspectiva Haitiana", mostra que a fome no Haiti não se limita à falta de comida. Ela também está ligada a aspectos culturais e sociais que, ao longo de gerações, acabaram moldando a forma como muitas pessoas encaram a pobreza e a escassez. Esse fenômeno, chamado de fome cultural, revela como a fome pode ser percebida quase como uma condição inevitável, o que dificulta a construção de novas esperanças. O estudo argumenta que enfrentar a fome no Haiti passa também por transformar essa percepção, fortalecendo a dignidade, a solidariedade e a confiança em um futuro melhor.
A tese também desafia as correntes tradicionais que explicam a fome apenas pela falta de alimentos ou pela pobreza econômica. Ao propor o conceito de ‘fome cultural’, o estudo mostra que a fome não é apenas material, mas também simbólica: ela está ligada à forma como a sociedade interpreta, aceita ou resiste às privações. Essa perspectiva abre caminho para novas reflexões e políticas, que reconhecem a dignidade e a esperança como partes fundamentais no combate à fome.