A conclusão de um curso é data especial para qualquer aluno. Imagine para internas da Penitenciária Feminina de Foz do Iguaçu. Na manhã desta terça-feira (26), 36 detentas receberam o certificado de curso básico de informática, oferecido em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteira (PPGSCF) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Foz do Iguaçu. Também nessa cerimônia, outras 22 internas receberam diploma de encerramento das fases 1 ou 2 do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) Helena Kolody, que funciona na penitenciária.
O estado do Paraná, por meio da Polícia Penal, vem implementando uma metodologia própria em diversas unidades prisionais, denominada Unidade de Progressão (UP), sendo a Penitenciária Feminina de Foz uma das unidades que aplica. A metodologia prioriza os processos educacionais, profissionalizantes e atendimentos individualizados, propiciando o desenvolvimento e a reintegração social das pessoas privadas de liberdade.
A proposta do curso de informática supre uma lacuna da própria unidade prisional, que possui um laboratório de informática com 12 equipamentos funcionando, mas sem nenhuma utilização, pois não dispõe de professores de informática. O curso foi ministrado, durante quatro meses, pelo doutorando da Unioeste Vitor Jorge Chamorro, que tem como objeto de pesquisa analisar os efeitos da política de progressão da penitenciária, um modelo que defende a evolução gradual das internas, especialmente com a disponibilização de capacitações que sejam úteis à futura vida em liberdade.
Como forma de pesquisa etnográfica, Vitor foi se aproximando das internas com o decorrer das aulas e conseguindo coletar suas experiências na Unidade de Progressão. “Coletei dados para compreender o processo de reinserção, que vão muito além da visão da gestão ou da Justiça, mas pela percepção delas. Acima de tudo, estamos promovendo cidadania e dignidade para elas. Esses são pilares fundamentais da Unioeste: como universidade pública, nossa missão é reduzir desigualdades, garantir acesso gratuito ao ensino de qualidade e, por meio da extensão universitária, aproximar-se da comunidade atuando como agente de transformação social”, disse.
Durante a cerimônia de conclusão dos cursos, autoridades discursaram, assim como representantes do grupo de alunas, cheias de emoção. A juíza da Vara de Execuções Penais Juliana Arantes Zanin Vieira ressaltou a atitude do pesquisador. “O mundo pode ser mais justo quando alguém escolhe fazer a diferença. Cada mulher que recebe certificado carrega mais do que conhecimento técnico, carrega a oportunidade de mudar sua história”, disse.
Pelo programa de progressão, a cada 12 horas de estudos, essas mulheres recebem um dia a menos da pena aplicada a elas. A diretora da unidade prisional, Helena Maria de Almeida, disse que a instituição está aberta para outros pesquisadores e iniciativas de universidades, compreendendo a importância que têm para elas. “Todas as alunas que iniciaram, finalizaram o curso. Geralmente muitas largam na metade. Trabalhamos para ajuda-las a saírem em condições melhores do que entraram”, conta.
O coordenador do PPGSCF, professor Doutor Samuel Klauck, explica que o programa assumiu como diretriz a inclusão de atividades de extensão dentro da carga curricular. “Nosso papel também é de auxiliar a sociedade em problemas reais, cotidianos, que envolvem questões de saúde, educação, cultura, entre outras áreas. Esse programa de progressão penal trabalha com pessoas que estão na extremidade da sociedade. Permitir acesso e qualificação mesmo que mínima, vai permitir que portas se abram para elas”, diz. O certificado emitido pela Unioeste atesta a qualificação obtida pelo curso.
Texto: Daniela Neves