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Mulheres rompem barreiras para chegarem à Universidade e fazem história da Unioeste

 

As histórias das docentes Maria das Graças e Luciane e da aluna Elza são ricas em detalhes de graça, coragem e um ponto de convergência: a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), instituição que, há décadas, muda e transforma, diariamente, a vida de mulheres das mais variadas origens.

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, trazemos a história de cada uma delas, a da docente Maria das Graças (Campus de Marechal Cândido Rondon), a mais antiga nomeação, de 1984, ainda na ativa. A de Luciane (Campus de Cascavel), a mais recente professora nomeada e, por fim, a da aluna Elza, de 67 anos, estudante do segundo ano de Letras, habilitação em Espanhol, no Campus de Cascavel.

As três mulheres têm lugares de fala diferentes, mas formam coro quando o assunto é resiliência, superação, disciplina, emoção e, principalmente, a paixão pelo conhecimento nas suas mais diversas faces, no tripé ensino, pesquisa e extensão.

Com emoção, elas contaram suas histórias de forma sincera, livre e apaixonada pela Unioeste. O resultado foi um presente, pois assim deixam suas impressões, que vão além da reportagem para ficarem na memória dos que as conhecem de perto e, agora, por meio de um espaço de voz.

O trio faz parte das milhares em todo o País e do Paraná, já que a população feminina representa 59,6% dos estudantes de universidades em território nacional, conforme informações do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2022, divulgados em outubro de 2023.

Dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), do Estado do Paraná, divulgados recentemente, também mostram as mulheres como maioria entre os professores das universidades estaduais as 3.954 professoras representam 52% do total de docentes.

História na docência

A fisioterapeuta e doutora Maria das Graças Anguera, ainda criança, no interior paulista, sonhava com uma carreira na profissão de escolha. Isso ela fez e fez bonito. Formou-se, em Presidente Prudente, migrou para o Paraná e com apenas 21 anos de idade ingressou na antiga Facimar, atual Campus de Marechal Cândido Rondon. A Unioeste foi criada em 1995 a partir da junção de fundações de ensino nas cidades de Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu, a já citada e, depois, Francisco Beltrão.

Atualmente, a professora usa o seu lugar de fala, o de 40 anos de docência na Instituição, para expressar gratidão profunda. É professora associada na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), lotada no Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras (CCHEL), campus de Marechal Cândido Rondon.

Narra sua história, com melodia delicada, gestos sutis, sob o pano de uma sofisticação inerente ao conhecimento e à maturidade. “Neste ano de 2024 completo 40 anos de atividade profissional e em todos esses anos tive a honra de compor o quadro docente da UNIOESTE. Junto com a UNIOESTE eu cresci e amadureci profissionalmente e pessoalmente, eu iniciei a minha carreira profissional e me preparo para finalizá-la em breve. O caminho dos estudos me foi apresentado desde muito cedo e posso afirmar que é um caminho repleto de boas e importantes oportunidades para a vida” .

 Para resumir o seu breve memorial ela cita, “Eu não poderia deixar de mencionar que durante esta caminhada profissional eu me permiti ser, entre outras,  filha, irmã, amiga, esposa e mãe de Rene e de Lohran. Nesta jornada de vida não foram somente flores, mas sigo acreditando que elas sempre estão no caminho.  Minha história de vida é a minha melhor referência”.

Maria das Graças Anguera tem doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), mestrado pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) e há 11 anos,  faz plantão de docente no Centro de Reabilitação Física da UNIOESTE (CRF-UNIOESTE) no campus de Cascavel.

 

Do campo para a Unioeste

 

O dia 23 de novembro de 2023 mudou para sempre a vida de Luciane Watthier, uma ainda jovem de 37 anos. Naquela data, foi nomeada como docente no curso de Letras da Unioeste. Para conquistar o posto,   não se rendeu às adversidades. Ela iniciou seus estudos no campo, lugar que aprendeu o poder da disciplina e do propósito. Ao voltar no passado, lembra os pais, os pequenos agricultores Ido e Sônia, que diziam: “o estudo ninguém tira”.

Luciane estudou em escola rural, em Cascavel, e cumpriu o trajeto do fundamental até a graduação na Unioeste e, nesta mesma Instituição, cursou Mestrado e Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Letras. Além de docente da Unioeste, há 12 anos é professora da rede estadual de ensino do Paraná.    “Outros importantíssimos valores que aprendi na minha infância foram a fé em Deus e a valorização da família”

Mãe de Cecília, de três anos e Clarisse, de nove meses, Luciana agradece o marido Rafael e revela intensidade no papel materno.  “A elas, meu objetivo é colaborar para que sejam pessoas boas e valorizem, também, a família e os estudos. Muito feliz, estou retornando para este lugar que considero minha segunda casa e, dessa vez, como professora efetiva. Em algumas circunstâncias, entre as quais, o apoio dos meus pais, permitiram que eu pudesse me dedicar exclusivamente ao estudo e, por isso, estive sempre envolvida em vários projetos de pesquisa e de extensão. Então, estou agora, muito feliz, retornando para minha casa.”

Aluna de 67 rompe preconceitos

A recepcionista aposentada Elza Regina Alves de Camargo, de 67 anos, a terceira entrevistada desse especial, tem nome aristocrático, mas nas suas veias corre mesmo sangue de brasileira que nasceu na pobreza e na falta de informação.

A hoje universitária aprendeu cedo lições para manter cabeça erguida e a não desistir dos sonhos, mesmo com as intempéries da vida. Desse modo, descobriu que existe o tempo certo para cada coisa e, aos 67, orgulha-se por estar no segundo ano de Letras-habilitação em Espanhol, no Campus de Cascavel.

A futura professora mora no bairro Interlagos, Zona Norte, acorda às 6h, embarca, às 6h30,  percorre 10 quilômetros, em três ônibus, até a Unioeste, somando quase três horas no transporte público,  de ida e volta.

Elza não conseguiu concluir seus estudos quando jovem porque foi mãe solteira ,  em 1978, quando o preconceito da gravidez solo a jogou num mundo de preconceito, injustiças e marginalização. “Naquela época ser mãe sem casar era sujar o nome da família. Hoje isso mudou, meu filho tem 44 anos. Por isso eu saí da minha cidade e busquei uma vida aqui. Não fui aceita em casa. Sempre trabalhei, resolvi estudar e fiz cursinho aqui mesmo, público. Posso dizer que venci, não foi fácil, mas estou aqui não estou?”.

No banco do ônibus olha pela janela e sua mente voa ao futuro e à tão sonhada formatura.  Até lá, vai driblando as dificuldades, como a de não ter um computador em casa e fazer as atividades pelo celular. “Ainda é uma barreira para mim, não sou de desistir, vou até quando tiver saúde”. assim ela dá sua lição de vida e torna-se exemplo às mulheres que sonham em estar numa universidade

As três histórias escolhidas para homenagear o Dia Internacional da Mulher são um pequeno repertório num espetáculo maior, o da formação e da transformação pelo conhecimento. É assim que mulheres de todo o Mundo, mesmo que nem sempre em igual compasso dos homens, conseguem superar barreiras e chegarem a seus objetivos, pois como bem disse os pais de Luciane, “estudo ninguém tira”.

 

Legendas:

Maria da Graça professora, entrou na Universidade em 1984.

           Luciane comemora admissão mais recente.

Elza tem orgulho de cursar graduação.

 

Por Mara Vitorino com editoria de Thiago Leandro.

Fotos: Victor Hugo Norbach Tadioto e ACS.

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