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Lenda

1. A LENDA

A seda, originária da China, é uma das fibras mais antigas conhecidas pelo homem. Existem relatos arqueológicos da descoberta de fibras de seda e restos de materiais em túmulos e escavações na província de Shanxi, China, datando de 2.600 a 2.300 a.C. Porém, ninguém sabe ao certo a descoberta ou invenção da seda, e existem várias lendas e mitos em torno do bicho-da-seda, inseto que produz a seda. Entre elas podemos citar a ”lenda da moça cabeça de cavalo” (Figura 1).

Figura 1 – Representação da lenda da Moça Cabeça de Cavalo. Representação da lenda da Moça Cabeça de Cavalo
Fonte: Website Tooeleonline1.
 

O termo “moça cabeça de cavalo” é derivado da palavra chinesa Matouniang (de ma= cavalo, tou= cabeça, niang= moça ou senhorita). A lenda conta que uma moça vivia com sua família e um dia seu pai foi raptado por piratas. A mãe vendo sua filha que chorava e se recusava a comer ofereceu a mão dela, a quem lhe trouxesse o pai de volta; o cavalo da família, ouvindo essa promessa partiu em busca de seu mestre. Após alguns dias o cavalo trouxe o pai de volta, e ele, sabendo da promessa absurda de sua esposa, com uma flecha acertou o cavalo, arrancou seu couro e colocou para secar na porta de casa.

Pouco depois a moça, passando ali por perto, foi envolvida pela pele do cavalo, que a levou para longe. Dez dias depois a pele foi encontrada em um galho de amoreira, tendo se transformado no casulo e a moça transformada em bicho-da-seda; que para os chineses, tem a cabeça parecida com a de um cavalo. Assim, pensavam os chineses que dentro do casulo, existia uma “bonequinha”, a pupa. A palavra pupa em latim significa boneca.

Posteriormente, essa moça foi considerada a “Deusa da Seda” (Fig. 02), conforme diz a lenda:

“...em meio à alegria reinante, surgiu uma deusa envolta em uma pele de cavalo, vinda do céu. Trazia consigo dois rolos de seda, um de cor amarela mais belo que o ouro, e outro tão branco e brilhante como prata. Esta jovem tornou-se a deusa do bicho-da-seda. A pele de cavalo que a revestia, já aderira a ela inseparavelmente. A metamorfose da deusa em bicho-da-seda dá-se sempre que ela une as extremidades da pele. Assim, quando está com a pele aberta, é deusa e quando fechada, é o bicho-da-seda. Quando sua face surge, é bela. Quando encerrada dentro da pele e arqueia o corpo, assemelha-se a um cavalo. Nesse estado, a seda sai magicamente de sua boca”. (FERNANDEZ et al., 2005, p. 57).
Figura 2 - Estátua da princesa chinesa Hsi-Ling-Shih Estátua da princesa chinesa Hsi Ling Shih
Fonte: Website Hubpages2.
 

Entretanto, com base nos escritos de Confucius, foi a imperatriz chinesa, Hsi-Ling-Shih (Figura 2) de 14 anos de idade, esposa do imperador Huang Ti, em 2.640 a.C., quem primeiro desenovelou um casulo de seda, quando este caiu acidentalmente em seu copo de chá quente. Na cultura chinesa, a imperatriz é venerada como deusa da seda, por ter inventado o tear utilizado na produção de tecidos de seda.

Outra lenda é a do “Gato protetor do Bicho-da-Seda”. Sabia-se que os ratos comiam os bichos–da-seda e, para afastá-los, os criadores compravam gatos. Com o tempo, percebeu-se que a simples imagem dos gatos já afastava os ratos, e então os criadores de bicho-da-seda passaram a usar pinturas de gatos, que segundo eles teriam poderes espirituais (Figura 3).

Figura 3 - O gato protetor do bicho-da-seda. Gato protetor do Bicho da Seda
Fonte: Comunicação científica: “Nota sobre o bicho-da-seda no folclore chinês”3.

 

2. HISTÓRICO

A sericultura é uma atividade que abrange a obtenção de ovos, que irão originar as lagartas, sua criação e o cultivo da amoreira, cujas folhas irão alimentar as lagartas até a obtenção dos casulos. A atividade teve início na China, há mais de 5.000 anos, e por vários anos os chineses mantiveram em segredo da tecelagem e o monopólio da produção de seda. Para assegurar este monopólio, o governo chinês impunha leis severas para quem revelasse seus segredos, cuja punição era a morte.

Na época a arte na produção da seda era um dos deveres destinados às mulheres, que alimentavam as lagartas, produziam os fios e tecidos, inclusive tingiam e bordavam a seda (Figura 4).

Figura 4 – Pintura de mulheres chinesas trabalhando na criação do bicho-da-seda.    Pintura de mulheres chinesas trabalhando na criação do BSFonte: Website Silk-Road4.
 

Devido a grande demanda pela seda, que apresentava um alto valor comercial, em 139 a.C. foi criada a “rota da seda”, a estrada mais longa do mundo (8.000 km), que se estendia da China Oriental ao mar Mediterrâneo (Fig. 05); estabelecendo assim o comércio desta exótica fibra. As caravanas demoravam de 6 a 8 anos até chegarem ao destino e a viagem era extremamente árdua, os comerciantes resistiam a riscos de vida, incluindo ameaças de bandidos e nômades. Por ser tão bela e rara, os preços da seda eram altíssimos, especialmente a seda vermelha, pois só os chineses tinham o segredo desta cor.

Figura 5 – Rota da seda. Rota da seda.png 2
Fonte: Website Stratfor5.

 

Imigrantes chineses levaram os segredos da atividade sericícola para a Korea, em 200 a.C. O segredo foi exposto e eventualmente outros países iniciaram a produção de seda; sendo que a Índia e o Japão fizeram isto, em torno de 330 d.C. No intuito de se conhecer os segredos da seda, o imperador Justinian, em 552 d.C., enviou dois monges em missão na Ásia, que quando retornaram trouxeram ovos do bicho-da-seda escondidos em varas de bambu. Este seria o primeiro caso de “espionagem industrial”. A partir de então, devido a vários eventos históricos, a sericicultura se expandiu.

O comércio da seda prosperou nos Séculos 18 e 19, e os europeus realizaram grandes avanços na produção de seda. A Inglaterra liderou o mercado de seda manufaturada, no século 18, devido às inovações na indústria têxtil, que incluíram melhorias nos teares de seda, sua capacidade e rolos de impressão. Mas, a partir do Século 19 a atividade entrou em declínio, devido a vários fatores: falta de mão de obra, uso de fibras sintéticas, e doenças do bicho-da-seda. Entre 1855 e 1865 uma epidemia de pebrina, causada por um protozoário, devastou a industria sericícola, e foi o cientista francês Louis Pasteur quem descobriu que esta doença poderia ser prevenida através de um simples exame microscópico de adultos do bicho-da-seda. Entretanto, no Século 20 o declínio se manteve e com a Segunda Guerra Mundial a seda sofreu forte impacto, uma vez que as fibras sintéticas captaram muitos dos mercados da seda, como meias e pára-quedas.

Após a guerra o Japão restaurou sua produção, sendo o maior exportador de seda crua até 1970, quando a China retomou gradualmente sua posição histórica de maior produtor e exportador de seda do mundo. Países como o Japão, Índia, República da Coréia e Brasil também produzem e exportam a seda.

No Brasil, a seda foi introduzida no século XIX durante o reinado de Dom Pedro I, no município de Itaguaí, Rio de Janeiro. Ali, foi instalada a primeira indústria de seda nacional, a Imperial Companhia Seropédica Fluminense.

No Paraná, o bicho-da-seda surgiu pela primeira vez em Cambará, em 1932, onde em 1946, nasceu a primeira fábrica paranaense. A criação da lagarta em escala comercial começou na região de Ibaiti. Em 1972, instalava-se no Estado a primeira fábrica de fiação de seda, a Kanebo Silk do Brasil, em Cornélio Procópio. A partir de 1973 a sericicultura passou a participar da cadeia produtiva de seda junto a implantação da Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá Ltda – COCAMAR, localizada na cidade de Maringá.

A seda brasileira é considerada de alta qualidade. Os famosos lenços da marca francesa Hermes que chegam a custar mais de US$ 300 são confeccionados com fios de seda 100% brasileiros. Da mesma forma os quimonos mais sofisticados do Japão. A qualidade da seda brasileira começa pela raça dos bichos. Imigrantes japoneses, logo depois da Segunda Guerra Mundial, vinham de navio para o Brasil e traziam no bolso ovos do bicho-da-seda. Técnicos daqui criaram uma raça híbrida, cruzando raças de bichos-da-seda japoneses com chineses, que haviam sido trazidos para o Brasil pelos Matarazzo. A China lidera a produção mundial de seda, com 76% do mercado; seguida da Índia, com 17,7%; Vietnã – 2,7% e Brasil – 1,9%. O Paraná tem 217 municípios produtores, 7.037 criadores, 8.135 barracões, gerando cerca de 17 mil empregos no campo. A região de Maringá, que abrange 21municípios, tem 1.223 criadores, 1.674 barracões, proporcionando 3.614 empregos.

 

3. LITERATURA RECOMENDADA

CORRADELLO, E. F. A. Bicho-da-seda e Amoreira: da folha ao fio, a trama de um segredo milenar. São Paulo: Editora Ícone, 1987.

FERNANDEZ, M. A. et al. A utilização da biotecnologia na sericicultura brasileira. Análise molecular do banco de germoplasma de Bombyx mori da COCAMAR - Cooperativa Agroindustrial. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, v. 35, p. 52-57, 2005.

FONSECA, A. S.; FONSECA, T. C. Cultura da amoreira e criação do bicho-da-seda. São Paulo: Editora Nobel, 1988.

HANADA, Y.; WATANABE, J. K. Manual de Criação do Bicho-da-seda. Curitiba: Cocamar, 1986.

PAPAVERO, N.; PUJOL-LUZ, J. R. Notas sobre o bicho-da-seda no folclore Chinês. Revista Brasileira de Entomologia, v. 55(1), p. 141–142, 2011.

WATANABE, J. K.; YAMAOKA, R. S.; BARONI, S. A. Cadeia produtiva da seda: diagnósticos e demandas atuais. Londrina: Editora IAPAR, 2000.

4. REFERÊNCIAS

1Disponível em: http://tooeleonline.com/the-silkworm-goddess/
2Disponível em: http:/hubpages.com/hub/The-Shiny-History-of-Silk.
3Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbent/v55n1/a24v55n1.pdf
4Disponível em: http://www.silk-road.com/artl/silkhistory.shtml
5Disponível em: http://www.stratfor.com/sites/default/files/main/images/silk_road_v2.jpg

 

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