Levando-se em conta a concretude das escolas públicas do campo, tem-se constatado de forma contundente, a falta de vínculos com as comunidades e seus entornos, a pouca apropriação do conhecimento sistematizado por parte dos discentes e a alta rotatividade dos professores por conta do contrato PSS. Estas percepções têm problematizado o grupo de pesquisa e passam a constituir o núcleo deste projeto que se coloca como objeto central a formação de professores com vistas ao aprofundamento do conhecimento, a articulação de práticas e referências, com base nas escolas públicas do campo e articulados pela Rede de Formação de Educadores.

Segundo pesquisa do INEP[1] (BOF; SAMPAIO; OLIVEIRA, 2006)[2], quanto às parcerias com que as escolas do campo podem contar, até mesmo em escolas de assentamentos, é muito baixa. As autoras destacam que “[...] no Sul, chama atenção o fato que, de um total de 12 casos, tenha sido registrada parceria do Estado em um caso, do Incra em dois, do MST em dois e da Arcafar em um caso” (p. 202). Destacam ainda que “das escolas de assentamentos, enquanto os municípios reportam-se como parceiros, coordenadores e financiadores em 100% dos casos, [...] do MST (4%) e de “outros” (6%) [...]” (p. 202). Isso demonstra que nas regiões de agricultura familiar ou de predominância do agronegócio com assalariamento dos trabalhadores do campo, há grande quantidade de escolas públicas do campo sem apoio ou parcerias que efetivem vínculos e atenção às suas especificidades, o que as leva ao enfraquecimento, abandono e consequentemente ao fechamento. Acrescente-se ainda que parte dos alunos que ali residem passam a estudar em escolas da cidade, também pela crença cultural – fortalecida pelo processo de nucleação – de que as escolas da cidade têm condições de produzir melhores resultados em relação ao conhecimento.

No processo vivenciado com um grupo de escolas, desde 2015, foi evidente a forte adesão dos professores, mesmo que sua implementação lhes demandasse grandes desafios. Percebeu-se, também, que a criação de vínculos com as comunidades, com os colegas de série por conta do planejamento coletivo, com os educandos na relação estudo x ensino, lhes fortaleceu a identidade e o “reconhecer-se professor”. Desta forma constata-se que, a rotatividade dos professores faz com que não se criem vínculos nas escolas onde trabalham, levando os professores, muitas vezes, a desinteressar-se pela especificidade da escola, da comunidade e dos sujeitos que ali estudam, assim como pelos resultados de seu trabalho, pois o investimento de um ano, fica “perdido” e há que se começar tudo de novo em outra escola, com outros sujeitos e condições de trabalho.

A análise destes diversos elementos, percebidos como uma contradição, possibilitou a proposta de uma mediação que se constitui como uma rede de formação – REFOCAR - que articulasse estes educadores (professores, agentes, estagiários entre outros), desde a prática em curso nas escolas onde trabalham ou trabalharam (nos anos anteriores). Agora, a Plataforma on line visa aproximar professores e escolas a possibilidade de, coletivamente, estudar e trocar experiências para o aperfeiçoamento de seus estudos e o fortalecimento das escolas.

Diante dos ataques e do desmonte da Escola Pública, entendemos que a organização de Grupos de Estudos presenciais tem uma importância fundamental, tanto no sentido de possibilitar o acesso e a socialização dos conhecimentos produzidos coletivamente e acumulados historicamente, como para contribuir com a compreensão da sociedade e do mundo existente e realizar uma prática transformadora. Entretanto, o argumento principal, tem sido o de poder perceber-se juntos numa mesma luta. Em 2019, um depoimento de uma educadora de Salto do Lontra, em reunião de síntese do Grupo de Estudos, assim se expressou: Uma vez, a gente fazia o trabalho nas escolas cada um do seu jeito, mas cada um ficava perdido, achando que era problema dele diante de tanta dificuldade que se tem nas escolas do campo. Agora, com este grupo de estudos, estamos todos juntos e se estamos juntos, podemos nos ajudar, um dando força para o outro... Isso é o mais importante, agora não estamos mais sozinhos, estamos juntos!

Como se pode observar, ao partilhar momentos de formação, os educadores/ras fortalecem-se em suas práticas pedagógicas cotidianas.

Os grupos de estudos funcionam na modalidade de autogestão e que podem ser organizados em qualquer escola, comunidade, município e estado. A cada ano acrescem-se os estudos do ano anterior para ampliar o leque de possiblidades para grupos iniciantes e outros que queriam retomar outros estudos já apresentados.

[1] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

[2] BOF, Alvana Maria; SAMPAIO, Carlos Eduardo Moreno; OLIVEIRA, Liliane Lucia Nunes de Aranha. Iniciativas de educação para o meio rural nos municípios brasileiros. In: BOF, Alvana Maria. (org.). A educação no Brasil rural. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. p. 193-207.

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