Unioeste e PIC trabalham em horta e pomar sustentáveis

A Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC) terá pomar e uma horta sustentáveis, fruto de uma ação extensionista da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) dirigida aos apenados da unidade.
 
Às aulas, com aval do Departamento Penitenciário do Estado (Depen-PR), ocorrem numa sala na própria penitenciária, com todas as normas de segurança exigidas por lei. A horta e o pomar, denominado por agrofloresta, já tem áreas na PIC, com 600 metros quadrados cada.
 
Intitulado “O conhecimento como meio de ressocialização, uma segunda chance”, o projeto foi aprovado, em 2019, envolvendo docentes da graduação e da pós-graduação em Engenharia do Campus de Cascavel, O curso tem 180 horas e, ao final, os alunos recebem certificação da Universidade. Além disso, têm redução de pena, conforme prevê a legislação.
 
Duas vezes por semana, os professores deslocam-se até a PIC para ministrarem conhecimentos sobre plantio, cultivo, adubo, irrigação, entre outros conteúdos na área de produção orgânica de alimentos. A primeira turma tem nove alunos, que foram selecionados a partir da aptidão para trabalharem na área. A produção será distribuída para Provocar e para famílias dos apenados, além de uma parte para consumo na PIC.
 
A agrofloresta e a horta serão sustentáveis, ou seja, com insumos e adubos produzidos a partir do lixo orgânico da penitenciária. Desta forma, os resíduos têm destinação correta, além de diminuir o custo de produção de hortaliças e frutas. O local deverá conter hortaliças como alface, beterraba, rabanete, brócolis, couve, repolho, berinjela e frutas da região, como tangerina, pitanga, Jabuticaba, acerola, caqui. No momento o projeto foi interrompido, mas às aulas ocorriam às quartas e sextas-feiras, das 13h30 às 16 horas.
 
A Penitenciária Industrial de Cascavel, estrutura prisional inaugurada em 2002 tem capacidade para 360 pessoas. Uma das poucas nesses moldes no País, ela é considerada modelo e tem elevado grau de ressocialização. Na PIC, os presos trabalham, estudam, leem e são estimulados a desenvolverem os seus talentos para o bem.
 
Plantio
 
Mesmo com a pandemia de coronavirus, a previsão é que o plantio comece no mês de setembro, as mudas serão doadas pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). A expectativa é que em três anos agroflorestal e horta estejam em funcionamento, envolvendo mais pessoas.
 
A coordenadora do projeto, professora doutora Mônica Sarolli Silva de Mendonça Costa, da área aproveitamento de resíduos, diz que o objetivo do trabalho é levar o conhecimento sobre valorização de resíduos orgânicos por meio da compostagem e vermicompostagem e o uso dos produtos destes processos. “O composto e o vermicomposto terão um sistema de produção de hortaliças e frutas segundo as premissas da Agricultura Sintrópica. A compostagem é uma saída sustentável de destinação de lixo orgânico”.
 
A técnica, que vem ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo, consiste na reciclagem e transformação de resíduos (sobras de frutas e legumes e alimentos em geral, trapos de tecido, serragem, entre outros), em adubo de alta qualidade.
 
Segundo a coordenadora, os apenados aprendem como formas de destinação correta do lixo produzido na PIC, que irá virar adubo para a hora e a agroflorestal. “A produção de alimentos de forma sustentável é um tema com grande abrangência em diferentes segmentos da sociedade. Hortas urbanas, agricultura agroecológica, cultivo de plantas não convencionais (PANCS) entre outros, são temas de inúmeras atividades de extensão”.
 
A coordenadora elucida que o projeto é uma forma de contribuir para a ressocialização dos apenados, bem como repassar conhecimento sobre atividades que possam ser úteis em sua vida egressa, uma equipe de professores dos cursos envolvidos. “O nosso objetivo é levar o conhecimento sobre valorização de resíduos orgânicos por meio da compostagem e vermicompostagem e o uso dos produtos destes processos, ou seja, o composto e o vermicomposto, em um sistema de produção de hortaliças e frutas segundo as premissas da Agricultura Sintrópica”
 
Certificação
 
Com a certificação, depois de cumprirem pena, os hoje apenados poderão ser futuros produtores de hortifrúti. O trabalho envolve diretamente os seguintes docentes: - professor/doutor Marcio Vilas Boas, na área de irrigação, professores/doutores - Maritane Prior e Erivelto Mercante, nas áreas de topografia e geoprocessamento, professor/doutor Luiz Antonio de Mendonça Costa, na área de agricultura sintrópica.
 
Estão envolvidos, ainda, professor/doutor Dercio Ceri Pereira, na área de controle alternativo de pragas e doenças e Adriana Pereira, da PIC. Além dos docentes, ainda trabalha na ação em Empresa Junior ENGECTARE, formada por alunos de Engenharia Agrícola.
 
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O que é agricultura sintrópica
 
A agricultura sintrópica é o termo designado a um sistema de cultivo agroflorestal (SAF) baseado no conceito de sintropia, ou seja, princípio contrário ao de entropia e caracteriza-se pela organização, integração, equilíbrio e preservação de energia no ambiente. Esta vertente agrícola foi idealizada e difundida por Ernst Götsch, agricultor e pesquisador suíço que imigrou para o Brasil no começo da década de 1980, estabelecendo-se em uma fazenda na zona cacaueira do sul da Bahia.
 
Nas palavras do criador da técnica, o método “ensina a viver de floresta produzindo alimentos na floresta” O termo sintropia, ao contrário da entropia, é um processo que vai do simples para o complexo.
 
Ao levar esse conceito para a agroecologia, há interações que promovem um balanço energético positivo no sistema A técnica tem base científica e reúne um conjunto de pensamentos sofisticados na área de produção de alimentos.
 
Mônica esclarece que a agricultura Sintropica procura ocupar todos os espaços, utilizando o plantio em altas densidades no espaço e no tempo, potencializando a fotossíntese. “A retirada e a poda das árvores geram o alimento para as demais espécies. Dessa forma pode-se afirmar com toda certeza que este tipo de agricultura é autossustentável. Isso permite uma maior liberdade ao produtor rural, maior diversidade de cultivo, além de maior lucratividade”.

 

POR MARA VITORINO

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